terça-feira, 24 de novembro de 2009

Composição pra que te quero


Certa vez, em um seminário ou fórum sobre educação musical, assisti uma palestra sobre composição aplicada à series iniciais. Confesso que na época achava tudo ainda muito estranho e as lembranças ainda estão embaçadas já que isso ocorreu nos primeiros semestres de faculdade.

Ainda estou no meu primeiro ano lecionando musica no currículo e a experiência vem no trabalho e nos erros e acertos do cotidiano. O fato é que venho abrir esta pequena discussão sobre o assunto estimulando uma reflexão não só sobre o ato de compor como sobre a avaliação de composições.

Qual tipo de material se pode esperar de uma criança entre 6 e 7 anos? O que ela explora no sentido sonoro? O que ela compreende sobre o que faz? Quem já não passou pelo constrangedor episódio de "tentar decifrar" um desenho infantil e se deparou com a criança dizendo: "Não isso não é uma montanha. É um elefante, não está vendo?" O mesmo acontecerá na criação musical.

O fato é que assim como alguns professores limitam o desenho livre por medo da "falta de significado" das obras, muitos educadores musicais também evitam a composição por medo das sonoridades que iram encontrar. Eu me incluía neste grupo.

A composição é uma parte importantíssima na musicalização infantil. Proporciona conhecimento sonoro, distinção de timbre, estimula a criatividade nas escolhas sonoras. Além disso, toda composição exige uma apresentação artística com toda pompa de concerto o que inclui a atenção de outros colegas e a cooperação em grupo colaborando para a formação de ouvintes mais conscientes e respeitosos com o trabalho alheio.

Tendo em vista a nossa falta de compreensão sobre a criação infantil, a avaliação também se torna um mostro a ser dominado. Avaliar musicalmente não é fácil, especialmente quando se tem notas e pareceres (nada específicos) para entregar. Acredito que uma boa avaliação se faz com a observação constante da evolução musical (em termos bem gerais) e, usando o bom senso, considerar aquilo que a criança tem a nos oferecer naquele momento, ou melhor, TUDO o que a criança tem a nos oferecer. Avaliar musicalmente é minucioso, é delicado, é uma relação de cumplicidade e entendimento que dificilmente podemos alcançar com precisão. Avaliar composições infantis é duplamente impreciso, mas estritamente necessário.

Ano que vem começo uma nova etapa, para algumas de minhas turmas uma continuação da "alfabetização musical", no entanto notei esta falha na trajetória deste ano e estou procurando corrigir aos poucos. O mais importante: não tenho medo de não compreender a arte feita pelos meus alunos e pelo contrario, tento cada vez mais aprender com eles. Em breve colocarei algumas composições dos meus artistas para apreciação de vocês.

Inté!

Um comentário:

Alícia Sampaio disse...

Realmente Cissa! Muito bom o que escreveu!! Ainda existem muitos paradigmas a serem quebrados! E não só com os professores de música, mas em toda área da Educação!