quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Escolha de repertório


Dentre as discussões do curso "Música nas escolas" que participei nestes últimos dias, vem a sempre polêmica escolha de repertório. O que levar e o que aproveitar do repertório de nossos alunos? Quem dá aulas sabe, a letra é o que menos importa, especialmente as crianças e o apelo a que tanto tememos é, muitas vezes, ignorado por eles que inocentemente dançam e cantam funks e outras músicas que achamos inadequadas para a idade.
Daí lembrei de um texto escrito por um amigo, um colega músico, sobre um artigo que ele lera. Fala exatamente da evolução cultural e de como nossa cultura popular é flexivel e mutável.
Segue o texto para reflexão de vocês:

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"Hoje a tarde, acabei me deparando com um pequeno artigo, em um jornal, de um professor de música que me fez pensar novamente em uma questão que para mim já estava enterrada. Nesse texto, na verdade um manifesto mais do que legítimo de um indivíduo que milita por uma causa extremamente importante e que diz respeito a lei que obriga as escolas a oferecerem educação musical como uma disciplina única e independente no currículo de seus alunos, o professor fez referência aquilo que ele decidiu chamar de "música boa" e "música depravada".

Citando Platão e com ênfase em uma educação musical contemporânea e crítica, principalmente com aquilo que as mídias veiculam, o professor descreve que a verdadeira educação musical deve primar pela moral, pela ética e pelo discernimento daquilo que é bom ou não do ponto de vista musical. Já no final do seu artigo, ele descreve música como arte, cultura, ciência, e vai além, também descrevendo a música como vida e sentimento.

Daí o questionamento que para mim já estava encerrado! Pode a música enquanto arte ser medida por "boa" ou "ruim"? A arte musical em sí não seria a verdadeira depravação dos sentidos ou dos tais sentimentos musicais? Será que o professor se deu conta de que essa tal "música depravada" ou "música ruim" também é parte daquilo que ele supostamente entende por cultura? Ou não?

Acredito que todos esses pontos são intrínsecos. Ao entender que existe música de "boa" e de "má" qualidade, obrigatoriamente entende-se que existem culturas de "boa" e "má" qualidade, pois a produção musical é, e sempre será uma manifestação cultural e artística que se desenvolve e se dissemina através dos mais distintos movimentos sociais. É só saber o mínimo de história da música e observar os exemplos do jazz, do blues, do rock e do samba, gêneros marginalizados que ao longo do tempo ganharam projeção e hoje são consumidos pelas "elites culturais", continuam influenciando outros tantos gêneros musicais. A cultura não é um campo estático como muitos pensam!

Senso crítico não é desprezar e rotular de "bom" ou "ruim" qualquer forma de produção musical, que pertença ou não ao mercado cultural. Desse jeito, as questões morais e éticas ficam cada vez mais distantes do diálogo, entendimento e convivência. Quem perde somos todos nós, pois por não exercitar o senso crítico através da diversidade, segmentando e excluindo aprendemos apenas a realizar juizo de valores que nos tornam pessoas preconceituosas."


Blog: http://batucadasehistoria.blogspot.com/ de Leandro da Costa

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